História de Dr. Joel Lavinsky
Faculdade de Medicina da UFRGS
A minha história começou na aprovação para a faculdade de medicina mais concorrida do sul do Brasil, o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Faculdade de Medicina estão entre as melhores universidades do país e da América Latina. No segundo ano da graduação na Faculdade de Medicina, recebi uma bolsa de iniciação científica na área de endocrinologia. Isso gerou a apresentação de 8 trabalhos científicos em feiras de iniciação científica e a publicação de 3 artigos científicos em periódicos de grande impacto. O principal artigo foi sobre o efeito da aspirina e da acetilcisteína sobre a excreção urinária de albumina e taxa de filtração glomerular de pacientes com diabete melito tipo 2 microalbuminúricos através de um ensaio clínico randomizado do tipo “cross-over” sob orientação do professor Jorge Luis Gross e da professora Sandra Pinho Silveiro publicado no periódico Diabetes Care que têm fator de impacto (2021) de 16,019. Nesse momento comecei a entender como pode ser realizado pesquisa clínica altamente qualificada.
Ainda na graduação, na área da otorrinolaringologia, fui bolsista de iniciação científica no Grupo de Pesquisa em Otologia e Otoneurologia do HCPA/UFRGS (CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) sob coordenação do Prof. Dr. Luiz Lavinsky. Esse grupo era composto por 14 pesquisadores, 9 estudantes de graduação e 7 técnicos e atuava em 2 linhas de pesquisa: tratamento clínico e cirúrgico da vertigem e distúrbios metabólicos do ouvido interno. Permaneci vinculado por 8 anos desde a graduação até a pós-graduação. Houveram dezenas de apresentações em sessões de temas livres e diversas publicações nos tópicos de implante coclear e doença de Ménière. Ainda na graduação, na área da rinologia, participei de um grande ensaio clínico randomizado que avaliou o efeito do tamponamento de hipofaringe durante as cirurgias nasais e nasosinusais na prevenção de náuseas e vômitos no pós-operatório.
Ainda durante a graduação migrei para o Departamento de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como monitor da disciplina sob a orientação da Profa. Dra. Sandra Fuchs, pois precisava aprofundar o meu conhecimento para desenvolver pesquisa clínica de qualidade. Coincidiu com um período de grande crescimento da medicina baseada em evidências no nosso meio. Ainda como estudante, integrei como membro bolsista da câmara técnica de medicina baseada em evidências da Unimed Federação. Fomos responsáveis pela publicação de dezenas de estudos de custo-efetividade para análise de novas tecnologias em saúde. Na otorrinolaringologia, durante a graduação, também fui aprovado como monitor oficial da disciplina durante dois períodos.
Residência Médica em Otorrinolaringologia
Sobre a otorrinolaringologia, poucas especialidades eram clínico-cirúrgicas e com diferentes graus de complexidade. Isso explica o motivo de ser uma das residências médicas mais concorridas nos concursos. Dessa forma, prestei o concurso e fui aprovado em primeiro lugar no concurso para residência médica (MEC, Ministério da Educação) em otorrinolaringologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre no Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre. A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre é o mais antigo hospital do Rio Grande do Sul (217 anos) e um dos mais modernos complexos hospitalares do país. Desde 1961 é o Hospital Escola da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a segunda melhor universidade do Rio Grande do Sul. O Serviço de Residência Médica em Otorrinolaringologia do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre tem a grande vantagem de disponibilizar aos residentes a maior carga horária em treinamento cirúrgico. Isso permite que o residente realmente possa concluir a formação com um treinamento apropriado em todas as áreas da otorrinolaringologia.
Durante o período da residência realizei um estágio de visiting physician no House Ear Institute e na House Clinic em Los Angeles, Estados Unidos. O House Ear Institute é um dos maiores centros de otologia do mundo. Nesse momento, conheci o professor Rick Adam Friedman que, posteriormente, foi responsável por direcionar os meus passos seguintes na minha carreira como médico e cientista. Ao terminar esse período, eu tinha certeza de que meu futuro seria voltar para Los Angeles e aprofundar a minha formação como neurotologista e cientista. O período no House Ear Institute foi uma oportunidade para me decidir definitivamente pela otologia e, especialmente gerar um interesse especial pelas áreas mais complexas e desafiadoras da otorrinolaringologia, a neurotologia cirúrgica e a pesquisa básica do ouvido interno. Comecei a criar um entendimento de que essas áreas de fronteira tem um grande potencial na nossa especialidade.
Realizei a conclusão da residência médica em otorrinolaringologia (MEC, Ministério da Educação) e fui aprovado na prova de título de especialista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.
Mestre em Cirurgia pela UFRGS
Mesmo antes de terminar a residência médica em otorrinolaringologia, fui aprovado no mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Cirúrgicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Durante esse período realizei estágio docente no Ambulatório de Pesquisa em Doença de Ménière com a orientação de médicos residentes e alunos de graduação da disciplina MED06663 (Faculdade de Medicina, UFRGS) por 2 anos. Nesse período investigamos o efeito do hiperinsulinismo no comprometimento auditivo neurossensorial na Doença de Ménière através de um estudo de coorte com acompanhamento de 457 pacientes por 3 anos. Consegui demonstrar que o hiperinsulinismo aumenta em 3,5 vezes o risco para que pacientes com Doença de Ménière progridam para estágios mais avançados da doença. A dissertação de mestrado recebeu o conceito “A com louvor” pela banca examinadora. O artigo da dissertação foi publicado no periódico Otology & Neurotology, principal revista científica na área de otologia no mundo. Além disso, premiado em 1º lugar geral como melhor trabalho científico apresentado no 44º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.
Doutorado em Cirurgia pela UFRGS e Pós-doutorado na University of Southern California
Desde a graduação até a pós-graduação continuamos publicando através do Grupo de Pesquisa em Otologia e Otoneurologia do HCPA/UFRGS/CNPq, também na área de implantes cocleares. Publicamos estudos com a descrição de técnicas alternativas para a cirurgia de implante coclear, especialmente através de estudos observacionais comparados. Além disso, estudos anatômicos sobre a anatomia da janela redonda na cirurgia do implante coclear.
Através de fluxo contínuo entrei no doutorado do Programa de Pós-graduação em Ciências Cirúrgicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e logo fui aprovado para o Programa de “doutorado-sanduíche” da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Estabelecemos um convênio entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a University of Southern California. Fui aceito pelo Dr. Rick Adam Friedman, pela University of Southern California e pela comissão coordenadora do Programa de Pós-Graduação com o projeto: “Descoberta dos Genes nas Formas Comuns e Complexas de Surdez”. Esse projeto recebeu financiamento pelo NIH (National Institute of Health) através do R01 DC010856-01A1 sob a coordenação do Dr. Rick Adam Friedman. Honestamente, num primeiro momento, esse tópico era muito distante para mim. De qualquer forma, o meu objetivo era, ao final, conciliar a minha qualificação como pesquisador de ciência básica em um grande laboratório e acompanhar um dos maiores cirurgiões da base lateral do crânio da costa oeste dos Estados Unidos da América. Essa era uma oportunidade única e o melhor momento para isso.
Diferentemente do que estava planejado, o Dr. Rick Adam Friedman migrou do House Ear Institute para a University of Southern California. Embora tenha sido frustrante naquele primeiro momento quando estava chegando em Los Angeles, foi uma excelente oportunidade. Além do protagonismo num novo laboratório que estava se estabelecendo no Zilkha Neurogenetic Institute, recebi autorização para auxiliar o Dr. Friedman na prática clínica, especialmente no centro cirúrgico. Dessa forma, passei a ter dedicação em tempo integral na vida de um “clinician-scientist”. Enquanto pela manhã estava no centro cirúrgico, a tarde e a noite, a minha dedicação era para a pesquisa. Precocemente coordenava os experimentos nos laboratórios do Zilkha Neurogenetic Institute. Também acompanhei o falecido Dr. John K. Niparko que se tornou o chefe do USC Tina and Rick Caruso Department of Otolaryngology – Head and Neck Surgery of the Keck School of Medicine, University of Southern California. Diante do papel no Department of Otolaryngology da USC, recebi um convite para permanecer nos Estados Unidos. O mesmo convite foi reiterado publicamente na reunião geral do departamento. O motivo da negativa foram as minhas fortes raízes no Brasil.
De qualquer forma, foi uma maravilhosa oportunidade de aprender a conduzir um laboratório de pesquisa de ponta, desde as questões mais técnicas até a elaboração de artigos científicos para serem publicados em periódicos de grande impacto. Realizei mais de mil exames eletrofisiológicos (potencial evocados auditivos de tronco encefálico, emissões otoacústicas por produtos de distorção e potenciais evocados vestibulares) em camundongos, microdissecção do ouvido interno com preparo histológico para imuno-histoquímica, associação genética para definição dos genes candidatos e, finalmente, manipulação genética através da construção de camundongos mutantes (“knockouts”). Ou seja, um treinamento completo nos principais experimentos de laboratório relacionados ao ouvido interno. Previamente, realizei 8 cursos de treinamento no AALAS (Animal Care and Use in Research and Education) da University of Southern California para ser autorizado a trabalhar no laboratório do Zilkha Neurogenetic Institute.
A Descoberta dos Novos Genes da Surdez
Toda essa experiência e dedicação gerou a minha tese de doutoramento intitulada “Estudo de Associação do Genoma Inteiro na Descoberta de Genes de Susceptibilidade à Perda Auditiva Induzida pelo Ruído”. Nesse estudo, através da associação do genoma com o fenótipo da perda auditiva induzida pelo ruído em 297 camundongos de 64 diferentes linhagens, identifiquei um gene candidato conhecido como Nox3 no cromossomo 17. Através da utilização de um camundongo mutante (“knock-out” Nox3het/Nox3het) consegui confirmar que esse gene é crucial para o desenvolvimento da perda auditiva induzida pelo ruído. É o primeiro gene relacionado à perda auditiva induzida pelo ruído mapeado através de um estudo de associação do genoma inteiro com camundongos. Essa descoberta poderá ser útil para identificar os indivíduos mais susceptíveis à perda de audição quando exposto ao ruído, especialmente em determinadas atividades ocupacionais. Da mesma forma, o conhecimento de novos genes e redes moleculares que descrevemos nesse estudo abre portas para o avanço na área da terapia gênica. Esse artigo foi publicado no periódico PLoS Genetics, uma das principais revistas científicas nessa área com alto fator de impacto. Houve também uma relevante repercussão dessa descoberta na mídia leiga como a descoberta de um novo gene relacionado a perda auditiva induzida pelo ruído. A defesa de tese de doutoramento ocorreu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na defesa, houve unanimidade em conceder o conceito “A com Louvor” pela banca examinadora.
Ainda como parte do programa de “doutorado-sanduíche” publicamos outros artigos na área da genética e também na área da cirurgia da base lateral do crânio. Publicamos na Hearing Research, periódico de maior impacto na otorrinolaringologia, um grande banco de dados com fenótipos auditivos de mais de 100 diferentes linhagens genéticas de camundongos para uso público. Em outra publicação (G3, Bethesda), também conseguimos identificar determinantes genéticos em cada uma das diferentes frequências auditivas ao longo do eixo tonotópico da cóclea. Na área da cirurgia da base do crânio publicamos, inclusive, o “case of the month” da prestigiada Otology and Neurotology.
Na etapa final do período em Los Angeles, o Department of Otolaryngology do Keck School of Medicine da University of Southern California me colocou como postdoctoral fellow para outros 2 projetos de pesquisa: a interação gene-ambiente na perda auditiva induzida pelo ruído e a descoberta de genes da função vestibular. No primeiro projeto, consegui mapear um polimorfismo no cromossomo 6 para o desenvolvimento da perda auditiva induzida pelo ruído em camundongos como primeira demonstração experimental da interação gene-ambiente. Foi publicado em revista científica de grande impacto (G3, Bethesda) e ganhou novamente o 1º prêmio como melhor trabalho científico do 46º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial intitulado: “Descoberta de variação genética no cromossomo 6 como primeira evidência da interação gene-ambiente na perda auditiva induzida por ruído”. Essa mesma publicação foi selecionada para apresentação oral no “podium” dos melhores trabalhos de genética da Association for Research in Otolaryngology (ARO Meeting 2016).
Ainda nos laboratórios do Zilkha Neurogenetic Institute, em colaboração com o grupo da engenharia biomédica, conseguimos realizar avaliação da função vestibular de camundongos através de potenciais evocados auditivos vestibulares. Construímos o equipamento em colaboração com a Dra. Sherri Jones da University of Nebraska. Esse novo fenótipo nos permitiu, da mesma forma, mapear um novo gene candidato como responsável pela função vestibular de camundongos, conhecido por Dcc. Através da utilização de camundongos mutantes heterozigotos (Dcc +/-), conseguimos confirmar que esse gene é fundamental para a função vestibular, especialmente no utrículo e no nervo vestibular. Foi o primeiro gene do sistema vestibular determinado através de estudos de associação do genoma inteiro e, por isso, publicado num dos periódicos de maior impacto na área da otorrinolaringologia (JARO). Essa descoberta será muito útil para um melhor entendimento da fisiologia vestibular ao nível molecular.
Mesmo de volta ao Brasil, mantemos, até os dias atuais, a colaboração internacional com o laboratório do Dr. Rick Adam Friedman. Nesse projeto de colaboração, exploramos um gene (Nrp1) previamente mapeado em nossa meta-análise que confere susceptibilidade à presbiacusia. Nesse sentido, comparamos mutantes Nrp1fl/fl-Pax2Cre com controles e confirmamos que o gene Nrp1 é crucial para a preservação anatômica e funcional do órgão de Corti durante o período de envelhecimento. Dessa forma, publicamos em periódicos de grande impacto (PLoS Genetics) e o Nrp1 se tornou o gene mais relevante para identificar os indivíduos mais susceptíveis para o desenvolvimento da presbiacusia.
Todas essas descobertas desses novos genes para as formas comuns e complexas de doenças da orelha interna são certamente um primeiro passo para que ciência avance nessa área na busca de identificar e proteger os mais susceptíveis e, especialmente, na busca de tratamentos curativos na área da terapia gênica. Além disso, um melhor entendimento dos mecanismos a nível molecular. Nós conseguimos mapear dezenas de genes candidatos na orelha interna nos últimos anos e continuamos avançando nessa área em outros projetos. Todo esse esforço foi reconhecido em 2019 quando recebi da Assembléia Legislativa do Estado Rio Grande do Sul a 54ª Medalha do Mérito Legislativo como reconhecimento pela contribuição na ciência e pesquisa do nosso estado. Além disso, mais recentemente, fui selecionado para integrar o “Programa Jovens Talentos” da Academia Sul-riograndense de Medicina. Nesse programa, estamos nos dedicando a atividades de ensino voltados à comunidade.
A Vida de Ensino
Ao voltar em definitivo para o Brasil, me tornei preceptor da Residência Médica em otorrinolaringologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre no Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre na área de otologia, neurotologia e cirurgia da base lateral do crânio. Fui selecionado no Programa de Desenvolvimento de Preceptoria em Saúde da PROGRAD da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre em 1º lugar na área de Cirurgia. Oriento médicos residentes em otorrinolaringologia do primeiro, segundo e terceiro ano nas atividades clínicas e cirúrgicas, desde cirurgias otológicas comuns até as abordagens mais complexas para a base do crânio. Criamos o Curso de Especialização em Otologia, Neurotologia e Cirurgia da Base do Crânio do Complexo Hospitalar da Santa Casa e já estamos no sétimo ano consecutivo com fellows formados de várias localidades do estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Porto Alegre, sigo como coordenador das reuniões científicas semanais.
Na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre desenvolvo atividades de docência para a graduação e pós-graduação como professor colaborador da disciplina de Otorrinolaringologia para o curso de medicina e na disciplina de otorrinolaringologia aplicada à fonoaudiologia. Também sou um dos coordenadores da Liga Acadêmica de Otorrinolaringologia (LiOto) como atividade de extensão universitária. Realizamos cursos, simpósios e publicações científicas com alunos de graduação da faculdade de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Além disso, no programa de pós-graduação da mesma universidade, participo de atividades de pesquisa básica e experimental como professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Biociências.
Nesse mesmo período, fui aprovado no concurso para professor substituto do Departamento de Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de Cirurgia Otorrinolaringológica. O meu objetivo principal e o interesse de ser um professor de anatomia e, da mesma forma, um anatomista, é a busca da minha qualificação técnica como cirurgião. Permaneci por 2 anos como professor substituto e lecionei nas disciplinas de Anatomia Humana I e II para Medicina, Anatomia Humana I e II para Biomedicina, Anatomia Humana I para Enfermagem, Anatomia II para Farmácia, Anatomia Humana para Educação Física e Anatomia Humana para Fisioterapia.
Durante esse período, colocamos em pleno funcionamento o Laboratório de Investigação Médica (LIM-NOC) nas áreas de Neuroanatomia/Otorrinolaringologia/Cabeça e Pescoço através do 1º Curso de Dissecção do Osso Temporal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. De forma inovadora e sem precedentes, todas as peças utilizadas no curso foram previamente submetidas a um exame de tomografia computadorizada. Dessa forma, enquanto os alunos dissecavam as peças anatômicas, as tomografias computadorizadas da respectiva peça complementavam o entendimento. Essa nova estratégia de ensino gerou a publicação de um artigo científico com a descrição dessa metodologia inovadora de ensino. Nesse curso, todos os médicos residentes do estado do Rio Grande do Sul, gratuitamente, vêm sendo treinados nos últimos anos. Isso foi possível através de uma parceria público-privada que possibilitou a realização desse maravilhoso projeto nos últimos anos. Essa ação mostra a importância da universidade pública em fornecer qualificação gratuita aos profissionais da saúde para oferecer um melhor cuidado à saúde da comunidade. Da mesma forma, através de uma parceria público-privada, realizamos o primeiro curso prático com a prótese auditiva totalmente implantável (Carina®, Cochlear Corporation) para o treinamento de especialistas que vieram de todo o Brasil para o nosso laboratório.
Após o término do contrato de professor substituto do Departamento de Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na subárea de cirurgia otorrinolaringológica, foi aberto o edital para o concurso de professor efetivo do mesmo departamento no Instituto de Ciências Básicas da Saúde. Entre 17 candidatos de várias áreas (médicos, biomédicos, fisioterapeutas e odontólogos) fui aprovado em 1º lugar do concurso. Além disso sou o professor regente da disciplina de Anatomia Humana aplicada à Nutrição. Essa ampla diversidade de atividades como docente, inclusive em outros cursos da área da saúde, expandiu meus conhecimentos de maneira bastante significativa e também permitiu o aprofundamento no estudo anatômico na minha área de maior dedicação, a neurotologia e a base lateral do crânio. Atualmente, também sou membro do colegiado do Departamento de Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Fui aprovado no processo seletivo para professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nesse processo seletivo era exigido uma alta performance em publicações científicas nos últimos anos. Atualmente, oriento 5 alunos de mestrado e tenho 3 alunos com mestrado concluído. Sou o professor regente da disciplina de Seminários de Pesquisa. Essa disciplina é a principal disciplina do programa, pois foca fundamentalmente na análise dos projetos de pesquisa de todos os alunos do programa, especialmente nas questões de metodologia em pesquisa. Já participei como membro de 27 bancas examinadoras de programas de pós-graduação nos níveis de mestrado e doutorado, sendo a maioria na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas também na Universidade Estadual de Campinas, Universidade de São Paulo e na Universidade Federal do Estado de São Paulo. Atualmente, sou da comissão coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Cirúrgicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
As minhas duas linhas de pesquisa principais no Programa de Pós-graduação em Ciências Cirúrgicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul são: Descoberta de genes em formas comuns e complexas de surdez (pesquisa básica e experimental) e Tratamento Clínico-Cirúrgico das Doenças do Ouvido Interno (pesquisa clínica). A primeira estuda novos polimorfismos associados à surdez através de estudos de associação genética e exploração de fenótipos auditivos em camundongos. Atualmente, estamos avaliando as amplitudes supraliminares das emissões otoacústicas com produto de distorção como fenótipo eletrofisiológico em camundongos para a descoberta de genes candidatos. Também estamos realizando uma análise detalhada da amplitude da onda P1-N1 do potencial evocado auditivo de tronco encefálico e o efeito da exposição ao ruído em 69 diferentes linhagens genéticas de camundongos. A segunda linha de pesquisa é eminente clínica e morfológica, sendo direcionada para o ouvido interno e para a base do crânio. Estamos realizando estudos anatômicos e clínicos, especialmente na área da cirurgia do implante coclear e da anatomia cirúrgica da base anterior e lateral do crânio. Em estudo clínico em andamento, estamos avaliando os resultados de mais 300 pacientes que foram submetidos a cirurgia do implante coclear através da técnica de acesso combinado (TAC) e um estudo histológico comparativo entre a técnica convencional e a técnica combinada para avaliar desfechos como a preservação anatômica intra-coclear. Em fase final, estamos analisando o fluxo sanguíneo através da artéria etmoidal anterior, especialmente para relacionar com as abordagens da base anterior do crânio. E, finalmente, 2 dissertações de mestrado em andamento sobre temas clínicas do ouvido interno: o estadiamento evolutivo do da doença de Ménière através das provas calóricas e o manejo do zumbido somatossensorial através de terapia de estimulação elétrica.
Além disso, em colaboração com a Universidade Estadual de Campinas, estamos publicando diversos estudos clínicos sobre os protocolos ocupacionais de rastreamento da perda auditiva induzida pelo ruído. Várias publicações em periódicos de grande impacto, como na Ear and Hearing que é considerada a segunda revista científica com maior fator de impacto na área da otorrinolaringologia. Nesse estudo clínico, utilizando mais de 5 mil audiometrias ocupacionais de indivíduos expostos ao ruído e acompanhados por pelo menos 5 anos, através de um estudo de Coorte, conseguimos determinar novos intervalos críticos para a realização dos exames periódicos em trabalhadores expostos ao ruído. Portanto, esses estudos clínicos complementam um importante processo da minha principal linha de pesquisa sobre a genética da perda auditiva induzida pelo ruído. Essa linha de pesquisa começa nos estudos genéticos em laboratório para determinação da susceptibilidade instrínseca até análises para determinação do rastreio precoce de individuos mais susceptíveis.
Liderança Médica
Tenho uma atividade associativa bastante ativa. Na Associação Gaúcha de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ASSOGOT-CCF) fui responsável pelo Departamento Científico e, na gestão seguinte, segundo diretor científico e, finalmente, primeiro diretor científico. Essa atividade associativa na ASSOGOT-CCF me permitiu participar da comissão organizadora de diversos eventos regionais, como o IX Gauchão e XVII Jornada Sul Brasileira de Otorrinolaringologia em Pelotas e o X Gauchão e V Conesul de Otorrinolaringologia em Bento Gonçalves. Também coordenei o 1º, 2º e 3º Curso Intensivo de Otorrinolaringologia da ASSOGOT para Residentes como curso preparatório para todos os médicos residentes do estado do Rio Grande do Sul. Recebi da ASSOGOT-CCF o título de sócio honorário pela inestimável contribuição para o desenvolvimento da otorrinolaringologia gaúcha, brasileira e mundial.
Na Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) tenho participado como membro do Departamento de Otoneurologia nas últimas gestões. Fui eleito para integrar a Comissão de Educação Médica Continuada. Isso nos permitiu promover diversas iniciativas de ensino para os associados, especialmente na modalidade virtual. Em 2020, integrei a Diretoria Executiva da ABORL-CCF primeiro como tesoureiro-adjunto e, posteriormente, como tesoureiro. Fundamos o Departamento de Cirurgia da Base do Crânio da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial com o objetivo de fortalecer essa área de fronteira entre os otorrinolaringologistas e promover o aperfeiçoamento dos colegas. Atualmente sou o coordenador do Departamento de Cirurgia da Base do Crânio da ABORL-CCF. No ano de 2022, participei novamente na Diretoria Executiva da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia como Assessor. Atualmente, sou o Vice-presidente da Associação Gaúcha de Otorrinolaringologia para a gestão 2023-24.
Publicações e Ciência
Publicamos o primeiro livro nacional de cirurgia da base anterior e lateral pela editora Thieme. O livro é intitulado “Práticas em Cirurgia da Base do Crânio: Abordagens para Base Anterior e Lateral”. Conta com mais de 80 colaboradores nacionais e internacionais da otorrinolaringologia e da neurocirurgia e mais de 30 capítulos com as principais abordagens cirúrgicas. Esse livro representa um importante marco para a otorrinolaringologia brasileira na área da cirurgia da base do crânio. Além de contribuir no aperfeiçoamento dos colegas nessa área, posiciona os otorrinolaringologistas como personagens fundamentais na cirurgia da base do crânio.
Atualmente, sou editor da seção de otologia do periódico International Archives of Otorhinolaryngology. Além disso, membro do conselho editorial do Brazilian Journal of Otorhinolaryngology e do conselho revisor da Revista da Associação Médica Brasileira. Também sou revisor regular de diversos periódicos internacionais como a Otology & Neurotology, Audiology & Neurotology e PloS One.
Em relação a produção científica tenho um total de 123 apresentações de palestras/temas livres, 71 trabalhos científicos publicados em anais de eventos científicos, 34 cursos e eventos organizados e 29 capítulos de livros. A maior parte dessa produção está relacionada com questões relativas de ouvido interno, especialmente ao tratamento clínico e cirúrgico da vertigem, surdez neurossensorial e implante coclear e das abordagens para a da base do crânio, principalmente no caso do schwanoma vestibular. Felizmente, a cada ano, cresce a minha participação como palestrante em eventos científicos nacionais e internacionais e para publicações em capítulos de livro.
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Coordenação de Cursos no Exterior
Além dos cursos de dissecção do osso temporal que coordenamos de maneira regular no nosso laboratório do Departamento de Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em colaboração com a Fundação Otorrinolaringologia, temos uma colaboração internacional com a Cornell University em Nova York. Nessa colaboração, coordeno cursos de dissecção direcionado aos acessos cirúrgicos para a base do crânio. Já realizamos 11 cursos no Weill Cornell Medicine Surgical Innovations Laboratory for Skull Base Microneurosurgery. Esse curso é direcionado para otorrinolaringologistas e neurocirurgiões e conta com uma estrutura moderna para o treinamento. Como otorrinolaringologista e coordenador, organizamos o curso para permitir uma visão 360 graus de toda a base do crânio através da dissecção e recursos tridimensionais. É certamente uma excelente oportunidade de aperfeiçoar os conhecimentos nessa área complexa em um ambiente extremamente qualificado.
Professor Livre-Docente em Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP
Um momento que considero talvez o mais importante da minha carreira foi a aprovação no Concurso para Professor Livre-Docente em Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi um grande período de preparo para alcançar esse que é o maior nível acadêmico no nosso país.
Agradecimentos
Atualmente, na minha prática clínica, me dedico principalmente a otologia, neurotologia e base lateral do crânio.
Expresso minha gratidão aos meus pacientes e alunos. Os meus pacientes me tornaram médico e, os meus alunos, professor. Sem essas pessoas, tudo perde o sentido. E também aos técnicos de laboratório que me ajudaram tanto e continuam me apoiando nos meus projetos.
Agradeço também as instituições que contribuíram para a minha formação. Toda a minha formação foi gratuita e de qualidade. Começando pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a melhor universidade federal do Brasil, que me formou como médico, e depois mestre e doutor em medicina. Recebi bolsas de estudos em praticamente todo esse período. Também como médico residente (com bolsa do Ministério da Educação) em um dos maiores hospitais do país, o Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre. Também pela bolsa de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior para o programa de “doutorado-sanduíche” com auxílio de passagem, hospedagem e alimentação. E, finalmente, como atual professor do Departamento de Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Básicas da Saúde na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.