Implante Coclear

Implante Coclear

O implante coclear certamente é o principal marco histórico da otologia moderna no século XX, sendo a grande revolução no tratamento da surdez. Com o apoio da indústria, houve um aperfeiçoamento tecnológico a partir da separação espacial dos eletrodos na cóclea e estimulação não simultânea, resultado em melhores escores de discriminação. Essa estratégia de processamento gerou um salto no desempenho do implante coclear. Os avanços na microeletrônica geraram técnicas sofisticadas de processamento de sinal, aumentando a eficiência através de eletrodos multicanais. Mais recentemente, o aperfeiçoamento da técnica cirúrgica e da tecnologia do dispositivo contribuíram para o desempenho do IC. Surgiram também técnicas cirúrgicas alternativas que propiciam segurança e desfechos funcionais comparáveis a técnica convencional. Embora um progresso substancial já tenha sido alcançado, existem ainda alguns desafios a serem atingidos como a preservação da audição residual, eletrodos com inserção atraumática, estratégias para aumentar o número de canais funcionais, novas estratégias de processamento e o uso de células tronco e vários fármacos para regeneração neuronal. O IC é uma opção terapêutica para indivíduos com surdez severa e profunda nos quais não se observa benefício clínico satisfatório com o uso de AASI. Idealmente reserva-se essa alternativa para: (1) crianças com surdez congênita severa a profunda nos primeiros anos de vida; (2) adultos com surdez pós-lingual e com tempo de privação auditiva reduzido. No entanto, os longos eletrodos intracocleares convencionais podem causar dano a audição residual, especialmente nos pacientes com restos auditivos úteis em baixas frequências. Essa é uma população que vêm recebendo indicação de implante coclear, principalmente nos casos de pouco benefício com o AASI convencional. Com AASI isoladamente, a discriminação era exatamente a mesma antes e após o implante coclear. Entretanto, com a estimulação elétrica do eletrodo curto associado a acústica, todos os pacientes vem demonstrando uma melhor discriminação. Portanto, foi possível integrar o processamento acústico e elétrico. Existem outras formas de preservação da audição com eletrodos longos (20 mm) em que somente os eletrodos basais são estimulados. Dessa forma, os eletrodos apicais podem ser estimulados na medida que ocorra um progressivo comprometimento das baixas frequências. Os implantes cocleares híbridos com estimulação eletro-acústica já estão disponíveis no mercado, porém ainda apresentam limitações na capacidade de preservar completamente a audição residual.

Os primeiros implantes auditivos de tronco cerebral foram desenvolvidos em 1979 pelo Dr. House e Dr. Hitselberger no House Ear Institute (Los Angeles, Califórnia). Foi desenvolvido para ser acoplado ao núcleo coclear na área cerebelo-pontina, simultaneamente ou após a remoção tumoral em pacientes com neurofibromatose tipo 2 (NF2). Os eletrodos são posicionados cirurgicamente no recesso lateral do quarto ventrículo, ou seja, na superfície do núcleo coclear. Atualmente, a principal limitação é que a estimulação elétrica é realizada na superfície do núcleo coclear sem a seletividade de frequências que existe no implante coclear multicanal. Em geral, a discriminação de palavras e sentenças é limitada. Os pacientes conseguem detectar sons, mas com desempenhos inferiores aos pacientes com implantes cocleares multicanais. Menos de 10% dos pacientes discriminam palavras simples e 15% não podem ser estimulados eletricamente em função do posicionamento inapropriado ou movimentação dos eletrodos no pós-operatorio. Mesmo com essas limitações, o implante de tronco cerebral fornece uma mínima sensação auditiva em pacientes com NF2, os quais seriam completamente surdos. A indicação vem sendo expandida na medida que existe um aperfeiçoamento tecnológico e maior experiência cirúrgica. Além de NF2, as indicações estão avançando para casos de ossificação coclear e agenesia coclear em crianças. Da mesma forma, as pesquisas sobre o processamento do sinal auditivo no sistema nervoso central serão fundamentais no aperfeiçoamento dessa tecnologia.