Aparelhos Auditivos
APARELHOS AUDITIVOS E SEU USO
Aparelhos auditivos podem causar reações diferentes em cada pessoa que o utiliza. O tipo e grau de surdez pode limitar os benefícios a serem ganhos com um aparelho auditivo. Falando de modo geral, a pessoa com dificuldade de ouvir tem um problema duplo. A pessoa experimenta uma redução na intensidade do som em que ruídos ambientais cotidianos, como a fala, não são percebidos no seu volume normal. Além disso, com frequência há uma redução no que se chama de discriminação. Um comprometimento na habilidade de distinguir os sons da fala leva a uma redução na compreensão.
Se uma pessoa tiver um comprometimento do tipo condutivo, pode esperar maiores benefícios de um aparelho auditivo porque a habilidade de discriminação não é fortemente afetada. A maioria das pessoas com esse tipo de deficiência se acostumam com o uso dos aparelhos auditivos com facilidade.
Se o comprometimento auditivo for sensorineural, pode ser mais difícil se adaptar aos aparelhos. Com muita frequência, pessoas com esse tipo de perda podem ouvir sons da fala, mas não conseguem sempre entender o que está sendo dito. É verdade que a fala deve ser forte o suficiente para permitir que o ouvinte entenda completamente. Mas aumentar cada vez mais o volume da fala não necessariamente irá levar à melhora correspondente na discriminação, pois o nervo da audição se tornou menos sensível às diferenças acústicas dos sons da fala. Uma pessoa com surdez diz, “Eu escuto, mas nem sempre consigo entender o que escuto”. Como a primeira função de um aparelho é amplificar os sons, alguns usuários dos instrumentos continuam a experimentar dificuldade na compreensão. Por meio da amplificação, alguns sons da fala podem ser ouvidos e entendidos mais facilmente. O aparelho auditivo oferece ao usuário uma audição que tem menos acuidade normal, mas é mais satisfatório do que o comprometimento descompensado. O maior problema para o novo usuário é ajustar o ruído do aparelho auditivo. Houve muitas inovações no encaixe do aparelho auditivo que têm ajudado novos usuários a aprenderem a conviver com o ruído. Mudanças no circuito do aparelho auditivo, moldes auditivos especialmente concebidos, e aparelhos altamente ajustáveis têm facilitado o processo de aprendizagem inicial para muitos pacientes.
PASSOS PARA APRENDER A USAR UM APARELHO AUDITIVO
Qualquer que seja o tipo de comprometimento auditivo, é importante seguir um programa planejado de “aprender a usar o aparelho auditivo”. A facilidade ou dificuldade de ouvir irá depender do volume dos ruídos no ambiente, a distância do ouvinte em relação à fonte dos sons, a claridade do discurso ou da música e da luz (que pode aumentar ou interferir na leitura labial); Exercícios práticos irão ajudar o usuário com seu aparelho auditivo em situações muito diferentes.
A seguir, são descritas doze recomendações para aprender a usar um aparelho auditivo para se beneficiar ao máximo.
1. Primeiro use o aparelho em sua casa/ambiente.
O aparelho auditivo amplifica o ruído, a música ou fala e pode sofrer perturbações temporárias de ruídos do ambiente. Concentre-se em escutar todos os sons normais do lar e tente identificar cada som que escutar. Assim que conseguir identificar ruídos no ambiente, como o ruído da geladeira, o barulho de um ventilador, o bater dos pratos, o bater das portas, os ruídos ambientais vão incomodar e distrair menos.
2. Use os aparelhos apenas enquanto estiver confortáveis com eles.
Se estiver cansado após o uso do aparelho por 1 ou 2 horas, retire-o. Após algumas semanas, você pode gradualmente aumentar a quantidade de tempo em que usa o aparelho.
3. Acostume-se com o uso do aparelho escutando apenas uma pessoa – marido ou esposa, vizinho ou amigo.
Fale sobre assuntos familiares; use expressões comuns, nomes, ou uma série de números para objetivos práticos. Após alguns dias de prática com uma pessoa em um ambiente silencioso, tente um exercício diferente de escuta. Ligue o rádio ou a TV e com essa distração tente entender a fala de seu parceiro.
4. Não se preocupe em entender palavra por palavra.
A importância de ouvir cuidadosamente e de se concentrar no que está sendo dito deve ser sempre enfatizado, mas não se preocupe se não entender uma ou outra palavra. Pessoas com audição normal podem não entender certas palavras ou partes de frases e inconscientemente “preenchem” a lacuna com o pensamento expressado. Mantenha seu olhar na face do falante. A leitura labial é uma ajuda importante para o aparelho auditivo.)
5. Não desista do aparelho devido a interferência de ruídos no ambiente.
Se sua experiência inicial com o aparelho não for satisfatória, lembre-se de que você está aprendendo novos hábitos, isto é, reaprendendo velhos hábitos em uma nova situação. Pessoas com audição normal reconhecem ruídos no ambiente também, mas aprenderam a eliminá-los da percepção consciente. À medida que você aprende a discriminar entre ruído e fala e a identificar vários sons no ambiente, você também vai poder ignorar ruídos estranhos assim como as pessoas com audição normal.
6. Pratique a localização da fonte do som.
A localização do som (determinação da direção de onde vem o som) é um problema especial para quem usa aparelhos auditivos. Um exercício que ajuda a desenvolver a percepção direcional é relaxar em uma cadeira, com os olhos fechados e peça para alguém falar com você a partir de lugares diferentes do ambiente. Toda vez que seu auxiliar mudar sua posição, tente localizá-lo somente pelo som da voz.
7. Aumente sua tolerância a sons baixos.
Primeiramente, os usuários de aparelhos auditivos tendem a colocar o controle do volume em um nível muito baixo para uma escuta eficiente. Sons mais altos não precisam causar desconforto. Com um procedimento muito simples, após um certo tempo, você pode aumentar sua tolerância ao som. Enquanto escuta um falante, rádio ou televisão em sua casa, gradualmente aumente o controle do volume de seu aparelho até que o som fique muito alto. Quando o volume ficar desconfortável, abaixe o volume muito lentamente a um nível mais agradável. Após um período de prática, você vai ver que seu nível de conforto aumentou consideravelmente.
8. Pratique diferenciar diferentes sons da fala.
Prepare uma lista de palavras que diferem em apenas um som somente.
Peça para uma pessoa pronunciar essas palavras lentamente e distintivamente. Observe os movimentos dos lábios enquanto escuta atentamente as diferenças em pares similares de palavras. Depois, discrimine as palavras escutando-as sozinhas.
9. Escute algo sendo lido em voz alta.
Um bom exercício de escuta é fazer uma pessoa ler em voz alta uma revista ou jornal enquanto você acompanha com sua própria cópia do material sendo lido. Em intervalos irregulares, o leitor deve parar e pedir para você repetir a última palavra lida.
10. Aumente gradualmente o número de pessoas com quem você conversa, mesmo que ainda em seu próprio ambiente do lar.
Você vai achar que é mais difícil conversar com três ou quatro pessoas do que com uma só. Concentre-se principalmente no indivíduo que fala mais.
11. Gradualmente, aumente o número de situações em que você usa o aparelho auditivo.
Após ajustar razoavelmente bem em sua própria casa ao ruído de fundo e a conversas com várias pessoas ao mesmo tempo, você estará pronto para estender o uso do seu aparelho para o supermercado, igreja, teatro e outros lugares públicos. Abaixe o volume para reduzir o impacto de ruídos de fundo não familiar; não sentar abaixo de balcões; mova-se para diferentes áreas do auditório até achar um lugar em que possa ouvir bem. O ato de comer fora pode apresentar alguns problemas especiais ao usuário de aparelhos auditivos. Então, faça sua primeira refeição em público em um restaurante silencioso com pisos de carpete e janelas cobertas. À medida que sua tolerância aos ruídos aumentar, você vai achar mais fácil experimentar em ambientes com cada vez mais ruídos.
12. Faça parte de um curso em leitura labial.
A leitura labial irá lhe ajudar na comunicação geral com outras pessoas; considere como um complemento importante ao uso dos aparelhos auditivos. Embora a leitura labial tenha muitas limitações, algumas palavras não podem ser vistas nos lábios e algumas palavras não podem ser distinguidas de outras. Assim, a leitura labial combinada com um aparelho auditivo com frequência é mais satisfatória do que realizada individualmente. Uma lista de aulas de leitura labial pode ser disponibilizada.
13. O telefone e o aparelho auditivo.
Se sua perda auditiva não é grave, provavelmente conseguirá usar seu aparelho auditivo com o telefone. Coloque o receptor do telefone perto do microfone do aparelho auditivo. É preciso prática para se acostumar com o telefone. Sugere-se que um amigo lhe telefone em um determinado horário por vários dias para lhe ajudar a se acostumar com esse procedimento de usar o telefone com o aparelho auditivo.
AJUSTE AO APARELHO AUDITIVO
Não há mágica no ajuste satisfatório no uso de um aparelho auditivo. É necessário praticar e aplicar os passos de senso comum discutidos acima. Não espere por perfeição. Pessoas diferentes vão aprender em velocidades diferentes. Alguns indivíduos, talvez devido à gravidade de sua perda auditiva ou devido à natureza do comprometimento auditivo, podem precisar de muitas semanas para aprender a usar o aparelho. Outros podem achar que o ajuste ocasiona apenas problemas pequenos e vão usar o aparelho sem muitas dificuldades por algumas horas.
O principal objetivo no uso de um aparelho auditivo são as atividades do cotidiano. Para atingir esse objetivo, a leitura labial é quase sempre necessária. Para maiores benefícios, a leitura labial deve ser acompanhada pelo treinamento do uso do aparelho auditivo.
RESUMO
1. Um exame otológico completo é necessário para determinar qual tipo de surdez, sua provável causa e o tratamento recomendado.
2. A audição é o caminho natural e normal para entender a fala. Se sua audição pode ser melhorada por meios médicos ou cirúrgicos ou pelo uso de um aparelho auditivo, essa medida deve ser tomada.
3. Independentemente do tipo de tratamento realizado, a reabilitação é fundamental para se alcançar o máximo benefício.
4 Esteja determinado a dominar a habilidade de leitura labial. Faça disso um hobby. Isso irá ajudar em todas as conversas.
5. Esforce-se para relaxar. Não se force a ouvir ou ver a fala. Esse esforço causa tensão e dificulta ainda mais a leitura labial. Uma combinação entre audição e visão, em condições relaxadas, permite que a pessoa com surdez entenda a maioria dos falantes muito bem.
6. Não espere entender todas as palavras em uma conversa, mas acompanhe o falante. À medida que se familiariza com o ritmo da fala, palavras-chave vão surgir e você conseguirá entender o pensamento completo.
7. Tente gerenciar a situação para sua vantagem. A iluminação é importante. Evite colocar o rosto contra uma luz brilhante e evite sombras no rosto do falante. Dois metros é uma separação ideal do falante; nessa distância, movimentos labiais, expressões faciais e gestos podem ser observados com rapidez.
8. Mantenha um interesse ativo nas pessoas e em eventos. Fique ao par de questões nacionais e eventos em sua comunidade e no círculo social mais próximo. Assim, você conseguirá seguir as discussões com mais facilidade.
9. Lembre-se de que uma conversa funciona em dois sentidos. Não monopolize uma conversa na tentativa de direcioná-la e controlá-la. Por outro lado, não deixe acontecer sem participar. Assuma um papel ativo e interessado sempre que possível.
10. Seja específico na sua fala. Um comprometimento auditivo de longa duração pode ocasionar mudanças no volume e na qualidade da articulação e da voz. Essas mudanças podem ser evitadas sempre que possível e corrigidas quando indicado. Uma voz bem modulada e agradável é um grande trunfo.
11. Um interesse amigável e simpático em outras pessoas e nos seus problemas pode ser fundamental para suavizar o caminho de uma pessoa.
12. A educação do público é sua e minha responsabilidade. Você não pode ajudar os outros a entenderem seu problema se esconder essa informação deles. Não esconda o fato de que você usa um aparelho auditivo, ou que depende da leitura labial para entender uma conversa. Ao informar os outros sobre seu problema, é possível facilitar a comunicação para você. Apenas por meio da aceitação mútua e da compreensão dos problemas das pessoas com comprometimento auditivo que pode-se esperar que a pessoa “de fora” se ajuste às necessidades do leitor de lábios. Sem essa compreensão, a pessoa “de fora” pode aumentar os problemas do leitor sem querer.
13. Sempre tenha em mente que o sucesso de sua reabilitação auditiva depende de você, de sua atitude e sua aceitação do problema.
Felizmente, a criança com uma alteração condutiva auditiva sempre conseguirá ouvir, ou por cirurgia ou pelo uso de um aparelho auditivo adaptado adequadamente.
Surdez em uma orelha
Uma surdez que é restrita a uma orelha priva uma pessoa da habilidade de distinguir a direção do som. Também terá dificuldade de ouvir pelo lado envolvido e em um lugar com muito ruído. Geralmente, há problemas pequenos para as crianças pequenas, porém, a criança deve ser monitorada atentamente. Às vezes, podem ocorrer atrasos na fala e na linguagem. Quando a criança está em idade escolar, considerações especiais podem ser necessárias, por exemplo, o uso de assentos preferenciais.
Quando a surdez é condutiva, a cirurgia pode restaurar a audição, dando um melhor equilíbrio auditivo quando a perda se torna problemática, geralmente em adolescentes. Quando a surdez é neuro-sensorial, com frequência é possível restaurar parte desse equilíbrio pelo uso de aparelho auditivo.
AVALIAÇÃO DO APARELHO AUDITIVO
A avaliação da audição em uma criança pequena pode precisar de várias consultas. É importante chegar a uma defnição precisa do tipo e grau da surdez para escolher o aparelho adequado. Um aparelho muito forte para a criança pode causar desconforto nas orelhas e ser rejeitado por ela. Por outro lado, se o aparelho não for forte suficiente, a criança pode ter pouco ou nenhum benefício e se opor a usá-lo.
TREINAMENTO AUDITIVO
Os aparelhos auditivos não são como óculos. Uma criança que desenvolve problemas de visão frequentemente vê bem com os óculos. Ao usar os aparelhos auditivos, sempre há alguma distorção do som, especialmente quando o comprometimento é neuro-sensorial. Como o som não é perfeitamente claro com os aparelhos auditivos, crianças pequenas precisam ter treinamento de especial para entender bem a fala. Programas de treinamento auditivo ocorrem em passos lentos, de tarefas muito simples, como estar ciente de som quando começa, até a identificação dos diferentes padrões de som, compreensão (discriminação) de algumas palavras isoladas ou em frases. O treinamento em leitura labial com frequência está incluído no treinamento auditivo, especialmente para crianças com surdez severa e profunda.
A leitura labial pode ajudar uma criança a adivinhar palavras que não estão muito claras somente pela escuta. Entretanto, a leitura labial não pode ocupar o lugar da audição, pois apenas cerca de 25% dos sons da fala são visíveis nos lábios. A maioria dos sistemas escolares têm programas para ajudar os pais a ensinar seus filhos a escutar. Se seu filho está em idade pré-escolar, esse programa é realizado em casa e é chamado de programa de treinamento de pais e bebês. Crianças em idade escolar podem ficar em turmas especiais para os deficientes auditivos ou em turmas regulares com fala adicional e ajuda de um tutor.